“Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros”.     (João 13:35)

O meio evangélico, principalmente o pentecostal, é cercado de ísmos do pensamento religioso, concepções errôneas do que seja o “andar com Deus”. Impressiona o número de crendices que muitos crentes carregam e como elas variam de uma para outra. Cada qual arrogando para si o conhecimento da “verdadeira doutrina”, e para estes, os que não aderem a sua linha de pensamento, ou estão fracos, ou ainda não foram “libertos”. Alguns grupos chegam a dizer que são os únicos salvos, pois, segundo eles, o mundanismo adentrou as outras igrejas.
Uma das crendices que mais se propagou no meio evangélico pentecostal é com relação as vestes. A indumentária, para muitos religiosos, revela o grau de "consagração" a Deus. Com certeza que quem adoraem espírito e em verdade jamais irá se trajar indecentemente. Mas para os mais exigentes e rigorosos, a veste longa e social é o referencial da santidade ao Senhor. Junto com essa estética “santa”, acompanha-se um olhar altivo, dedo em riste, ar de mistério, palavras duras de exortação àqueles que andam “de qualquer maneira”. (Esse “de qualquer maneira” não significa propriamente usar roupas indecentes, mas estar fora da "doutrina" que o exortador acredita ser o correto e santo).

Como pastor pentecostal jamais serei a favor de um neoliberalismo em que o cristão possa andar com roupas sensuais, curtas, justas, seja a calça, a saia, o vestido, etc... O verdadeiro servo de Deus, seja qual tipo de veste ele usar, mesmo os trajes caracterizados evangélicos (tipo "vestidão" ou "saião" - alguns justos demais nos quadris) não podem transmitir sensualidade. Até porque quem nasceu de novo, quem realmente é convertido ao Senhor, não vai querer usar roupas indecentes! Respeito a todas as igrejas que mantém seus regulamentos internos, suas doutrinas. Tenho muitos amigos pastores destas igrejas e não os substimo nem ofendo. Até muitos deles admitem que deve se ter um equilíbrio e moderação nestas proibições. Respeito a posição de cada pastor. Todavia, na minha opinião, regulamentar tamanho de roupa como regra para entrar no céu, é pregar um "outro evangelho". (Gálatas 1:8)  É ir "além das coisas que estão escritas". (1º Coríntios 4:6) 

A algum tempo, uma missionária intitulada “profeta” e “vaso de fogo” se afastou da comunhão de uma das nossas igrejas. Segundo a tal missionária, o seu afastamento se deu pelos seguintes motivos: “falta de doutrina na igreja”, e "muitos irmãos estavam andando de qualquer maneira”. A igreja estava crescendo como ainda está, porém o fato do povo não se trajar com roupas sociais e saias “lá no pé” a incomodava. O ministério da igreja respondeu a missionária que se algum membro estivesse se trajando indecentementenão estaria atuante nos departamentos da igreja. O ministério solicitou ainda (já que este foi o motivo de seu afastamento) que a missionária citasse ao menos 1 (um) exemplo de indecência na igreja. A missionária não citou exemplos, e apenas respondeu: “-Meus irmãos, quando o mundo olha para uma mulher cristã, olha para as suas vestes e diz: -Ali vem uma serva de Deus!” (Ela se referia a saia longa, lá no pé, e a camisa de manga comprida).

Esse foi o argumento que a irmã usou para se desligar de nosso ministério e ir para outra igreja. Uma semana depois estoura a notícia que envergonharia muitos evangélicos e vem a servir de escárnio para o mundo: A tal missionária, profeta, vaso, e outros títulos, é pega roubando num supermercado. A irmã foi fichada, levada a depor. Eu nunca desejei que ela passasse tamanha vergonha! Gente a pampa no mercado olhando, seguranças gritando, um rebú danado! Lamentável ocorrer isso e o mundo identificar como um crente, um evangélico.


Escândalos acontecem. É bíblico. Mas não é estranho acontecer um fato deste com uma pessoa que pula, sapateia, exorta duramente, exige roupas longas, que exige tanta “santidade”??? Com certeza esta irmã não reflete os demais irmãos que seguem suas doutrinas. Jamais vou generalizar e dizer que quem segue doutrinas de roupas é sem caráter. Conheço irmãos que são pessoas honestas, sinceras. Porém o que chamo a atenção é para o seguinte fato: Como pode Deus tocar profundamente numa pessoa para ela não usar mais um determinado tipo de roupa, a ponto dela se sentir mal ao usar roupas fora da doutrina da igreja, e esta mesma pessoa mentir, caluniar, fazer fofocas, roubar?!?! Não é a Doutrina Bíblica (que nos ensina a não mentir, a não falar mal do próximo, a não roubar) muito mais importante que a doutrina da igreja?? Como pode um mesmo Deus, numa mesma pessoa, tocar numa área que a Bíblia não dá tanta ênfase (as aparências) e em outra área, do coração, das atitudes, não tocar?! Como pode uma pessoa ser tão "santa" no exterior, e ter um coração cheio de ódio, de inveja, de desejo de vingança??
  
Não vou mentir e dizer que eu não gostava de ver a tal missionária dirigindo cultos, vigílias, campanhas, muito avivadas até. Creio que quem faz a obra é o Senhor Jesus, quando oramos em seu nome. Porém, em algumas pregações da missionária, no final, ela deixava sua marca registrada: "-O crente deve serdiferente...devemos andar em santidade!" Coisas desse tipo ela fazia questão de falar. Eu engolia atravessado, mas relevava. A verdade é que nós pentecostais aprendemos a gostar destas pessoas que sabem animar os cultos de avivamento. Corinhos de fogo, bastante línguas estranhas, mistérios, visões... E nem sempre a vida de quem dirige estes trabalhos  condiz com o que eles pregam. "Muitos me dirão naquele Dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E, em teu nome, não expulsamos demônios? E, em teu nome, não fizemos muitas maravilhas? E, então, lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade"(Mateus 7:22,23)
 
"-Receba aí essa rajada de fogo...essa rajada de poder...essa rajada de glória...receeeeeeebaa!" Não é comum, mas já ouvi dizer de indivíduos que soltaram uma rajada de cheques sem fundos nas cidades onde pregaram. Escândalos difíceis de serem contornados da mente de quem nem era evangélico, mas acreditou no pregador, porque ele pulava, gritava, suava, etc. Conheci um dono de uma loja de CD´s evangélicos, e conversando com ele sobre os escândalos no meio gospel (nessa época eu estava elaborando uma matéria sobre o assunto) ele me mostrou uma pilha de cheques retornados do banco, sem saldo, e ele me disse: "-Você está vendo estes cheques aqui? São cheques de homens de Deus!"  Lógico que este empresário usava de ironia em usar a expressão "homens de Deus". É óbvio que os donos daqueles cheques não são dignos deste título. Mas ele se referia a pregadres, missionários, avivalistas, que o decepcionaram.
          
Pregadores sem caráter, obreiros sem caráter, pessoas que aprenderam a animar cultos, a pregar gritando, e incharam com o fermento do farisaísmo. Querem doutrinar igrejas, ensinar como o cristão deve se vestir, mas não largam a mentira, a desonestidade, a fofoca, o pecado! Não se vestem de qualquer maneira, mas vivem de qualquer maneira! A tal missionária só usa saia, roupas longas e sociais, anda na "doutrina", e o povo a vê, e diz: “-Ali vem a mulher que foi pega roubando no supermercado!”

 "E sucedeu que, entrando eles, viu a Eliabe e disse: Certamente, está perante o Senhor o seu ungido.Porém o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a altura da sua estatura, porque o tenho rejeitado, porque o Senhor não vê como vê o homem. Pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração"(1Samuel 16:6,7) 



"Fugi dos escribas, que gostam de andar com vestes compridas"(Marcos 12:38)   


Denis de Oliveira é pastor da Assembleia de Deus, Ministério Poder de Deus, RJ

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  1. Estimado pastor, gostei do seu artigo e acho muito sensato o seu posicionamneto.Que Deus o abençoe!

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